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quarta-feira, 10 de novembro de 2010

UTILIDADE PROVIDENCIAL DA FORTUNA SEGUNDO O ESPIRITISMO

A riqueza é, sem dúvida, uma prova mais arriscada, mais perigosa que a miséria, em virtude das excitações e das tentações que oferece, da fascinação que exerce. É o supremo excitante do orgulho, do egoísmo e da vida sensual. É o laço que mais poderosamente liga o homem a Terra e desvia os seus pensamentos do céu. Produz tamanha vertigem, que vemos quase sempre os que passam da miséria à fortuna esquecerem-se rapidamente da sua antiga posição, bem como dos seus companheiros, dos que os ajudaram, tornando-se insensíveis, egoístas e fúteis. Mas, por tornar o caminho mais difícil, não se segue que o torne inviável, e não possa vir a ser um meio de salvação nas mãos do que a sabe utilizar, como certos venenos que restabelecem a saúde, quando empregados a propósito e com discernimento.
     Se a riqueza é a fonte de muitos males, se excita tantas más paixões, se provoca mesmo tantos crimes, não é a ela que devemos ater-nos, mas o homem que dela abusa, como abusa de todos os dons de Deus. Pelo abuso, ele torna pernicioso o que poderia ser-lhe mais útil, o que é uma conseqüência do estado de inferioridade do mundo terreno. Se a riqueza só tivesse de produzir o mal, Deus não a teria posto na Terra. Cabe ao homem transformá-la em fonte do bem. Se ela não é uma causa imediata do progresso moral, é, sem contestação, um poderoso elemento do progresso intelectual.
          O homem, com efeito, tem por missão trabalhar pela melhoria material do globo. Deve desbravá-lo, saneá-lo, dispô-lo para um dia receber toda a população que a sua extensão comporta. Para alimentar essa população, que cresce sem cessar, deve aumentar a produção. Se a produção de uma região for insuficiente, precisa ir buscá-la noutra. Por isso mesmo, as relações de povo a povo tornam-se uma necessidade, e para facilitá-las é forçoso destruir os obstáculos materiais que os separam, tornar mais rápidas as comunicações. Para os trabalhos das gerações, que se realizam através dos séculos, o homem teve de extrair materiais das próprias entranhas da terra. Procurou na ciência os meios de executá-los mais rápida e seguramente; mas, para fazê-lo, necessitava de recursos: a própria necessidade o levou a produzir a riqueza, como o havia feito descobrir a ciência. A atividade exigida por esses trabalhos lhe aumenta e desenvolve a inteligência. Essa inteligência, que ele a princípio concentra na satisfação de suas necessidades materiais, o ajudará mais tarde a compreender as grandes verdades morais. A riqueza, portanto, sendo o primeiro meio de execução, sem ela não haveria grandes trabalhos, nem atividade, nem estímulo, nem pesquisas: com razão, pois, é considerada elemento de progresso.

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