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terça-feira, 2 de novembro de 2010

Todo poder é efêmero, mas quem passa por ele pensa tê-lo para sempre

Comentário de Raul Rodrigues (Correio do Povo) sobre a Edição da Revista Veja


É comum as pessoas ao galgarem o poder, seja ele do mais simples degrau ao mais alto dentro da conjuntura de um país, dizerem-se imunes ao apego ao exercê-lo. Mentira!
O poder cobra de quem o assume responsabilidades intrínsecas que não estão moldadas à personalidade de ninguém. Logo, ao seguir regras, rituais ou cerimoniais que detém o domínio mesmo que temporariamente terá que a ele se moldar, e fazer do poder o seu modelo!
Depois as características do centro do poder são envolventes demais. São afagos, carinhos e mimos nunca recebidos por quem está sentado na cadeira marrom(normalmente) e com a chegada de pedidos e apelos, a autoridade reveste o simples cidadão de coisas que antes nem sequer ele imaginara ter tamanho poder de decisão , todavia naquele momento o cetro está na sua mão e não na de mais ninguém.
E cabe a ele, usando dos requisitos que o problema exija, dar a palavra final.  
O poder é altamente desgastante. De mil pedidos que chegam, todos eles cheios de esperanças de quem os faz, e pelo desconhecimento das regras e preceitos do cargo, sempre pensando na resposta positiva, apenas na maioria das vezes alguns serão atendidos. Fato nunca compreendido por quem os faz!
O tempo torna-se um aliado muito forte do uso do poder. Os meses passam, os anos se completam e o antes homem comum vai se adequando ao movimento de vai e vem de pessoas, problemas e soluções, sempre dependentes dele! Não há como não se acostumar!
Em alguns casos, muito principalmente na política, as verbas de gabinete – caixa preta – verba de representação –, deixam a quem antes pagava as suas contas após conferi-las na ponta do lápis, lépido e fagueiro a sob seu comando mandar pagá-las e durante esse período sem ao menos as conferir. É o trato mais comum. 
Viajar de carro ou avião, com seguranças e oficiais responsáveis por funções diferentes, relações pública, oficial para pagamentos, dentre tantas outras vantagens aliadas às recepções nababescas, abraços e apertos de mãos das mais altas autoridades de municípios, estados ou países não são fáceis de serem esquecidas! Somos pobres mortais!
Os acenos de multidões, os discursos de agradecimentos, as gentilezas das pessoas mais bonitas dos pontos visitados são inesquecíveis.
O cargo retira da autoridade, os problemas mais corriqueiros da antes vida familiar, quando apenas a ele era cobrada a decisão para substituí-los por problemas incomensuravelmente maiores, porém divididos com especialistas que servem ao poder só para isto! Acertos geram aplausos ao prefeito, ao governador ou ao presidente. Erros são sempre endereçados ao diretor, ao secretário ou ao ministro.
A autoridade e o cargo cobra do simples ser humano mortal o perfeccionismo, mesmo quando este não existe dentro mensurável mundo terreno.
A autoridade de sucesso atinge índices de popularidade que nem mesmo a literatura pode lhe garantir alcançar. Não existe fórmula, não é exata esta ciência!
E quando todo este garbo passa para outras mãos, não se trata apenas da perda daquele ostentoso cargo, porém o desafio também de vê-lo dedicado a outrem, seja o seu escolhido ou não.
Portanto, seria para um ser humano especial perder tudo isso sem o sentimento da continuidade dessas “pequenas lembranças”, e, por enquanto, entre nós só temos seres humanos normais. A maioria até mesmo soberba!
E mesmo que o tivéssemos, algumas pessoas ligadas ao cargo vivido por outrem ainda insistem em chamá-lo de prefeito, governador ou até mesmo presidente, deixando-o ainda muito mais presente do já fora um dia.

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